A bacia Amazônica é a maior fornecedora mundial de peixes ornamentais. Encontrados, principalmente, em igapós e igarapés das planícies e florestas inundáveis da Amazônia, essas espécies são responsáveis por uma atividade econômica que gera anualmente em torno de 3 milhões de dólares no Brasil. O país exporta cerca de 20 milhões de peixes ornamentais por ano, mas para que a pesca seja realizada de forma sustentável, evitando seu esgotamento, é necessário realizar estudos sobre a biologia e dinâmica das populações das espécies exploradas.
Para evitar a chamada extinção comercial, o manejo sustentável de peixes ornamentais exige a conservação de seu habitat e o conhecimento integrado do ecossistema, da biodiversidade aquática e da questão sócioeconômica da atividade. Estudos para descobrir as espécies com potencial ornamental nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no Amazonas, estão sendo desenvolvidos, desde janeiro de 2005, pela equipe de pesquisadores do Instituto Mamirauá (IDSM), sob a coordenação do Diretor Técnico-Científico da instituição, Dr. Helder Queiroz.
Com o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental, o sub-componente “Peixes Ornamentais” do projeto Conservação das Matas Alagadas de Mamirauá e Amanã visa não somente analisar a possibilidade de explorar de forma sustentável este recurso, como também fornecer às comunidades ribeirinhas da região informações que lhes permitam realizar ações efetivas para a conservação e manejo dessas espécies. “Este estudo é de fundamental importância para podermos construir um plano de manejo das espécies com potencial ornamental e garantirmos a manutenção dessas populações de peixes. A idéia é que, futuramente, os próprios ribeirinhos das reservas façam a exploração sustentável desse recurso na região”, salientou o biólogo Alexandre Hercos, coordenador de campo do projeto.
Diferentes artes de pesca são usadas conforme as espécies alvo do estudo. Para a captura são utilizados instrumentos que não ameaçam essas pequenas criaturas como, por exemplo, o rapiché, redinhas, arrasto e armadilhas. Para a escolha das áreas de coleta, são levados em conta o potencial das mesmas para a exploração e a viabilidade da atividade que depende do acordo firmado entre pesquisadores e moradores das comunidades próximas dos pontos de coleta.
Primeiramente, o amazonense Jonas Alves Oliveira, assistente técnico do projeto, com 13 anos de experiência em pesca na Amazônia, indica as características dos pontos onde são encontradas as espécies ornamentais. “Esses peixes, principalmente os acarás-disco, espécie de alto valor comercial, procuram as galhadas para se protegerem de outras espécies predadoras e preferem também locais de remanso com fundo de lama e folhas onde a água é mais fria”, explica Jonas.
As galhadas artificiais são montadas próximas à terra firme e permanecem ali por, pelo menos, quatro dias, para que os peixes se acomodem no local. Em seguida, pesquisador e ajudantes de campo usam a rede de arrasto, puxando os peixes para terra. Quando a coleta é feita nos igarapés, a equipe caminha, às vezes, por mais de duas horas pela mata, abrindo as trilhas sob fortes chuvas e clima quente até chegar nos locais da captura, onde começa o processo de montagem das armadilhas e uso das redinhas e rapichés.
São coletadas espécies de sardinha-borboleta (Carnegiella strigatta), peixe-lápis (Nanosthomus unifasciatus), copela (Copella sp), cardinal (Paracheirodon innesi) e muitas outras. O acará-disco (Symphysodon aequifasciatus), devido à grande demanda do mercado e seu alto valor comercial, é uma das espécies foco do estudo.
Após coletadas, as amostras são levadas para o laboratório do Instituto Mamirauá, em Tefé, onde serão identificadas, medidas e pesadas. As espécies com potencial ornamental encontradas em abundância na região passam por uma série de estudos sobre sua biologia (alimentação, crescimento, reprodução e dinâmica de população), requisitos necessários para a formulação de um plano de manejo que já está atraindo o interesse dos moradores das reservas.
Segundo Moisés Viana, assistente de campo e morador da Comunidade do Baré, na Reserva Amanã, o trabalho tem lhe ensinado muito sobre a biologia das espécies. “Na pesquisa, comecei a aprender os nomes dos peixes. Antigamente, todos eram piabas para mim”, comenta Moisés, acreditando que a atividade possa melhorar a vida das pessoas da região ao proporcionar trabalho e aumento na renda das famílias.
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